segunda-feira, novembro 27, 2006

Nesta época de globalização, moderniza-te ou ficas de fora... De quê, pá? Não faço idéia...
Desde que as insígnias se chamam "pins", os maricas "gays", o fornecimento de alimentos "catering" y os elencos de cinema "castings", Portugal não é o mesmo. Agora é muito mais moderno; durante muitos anos, os portugueses falávamos em prosa sem entendermos. E o que é pior, ainda, sem darmos conta do atrasado em que estávamos. Os miúdos liam revistas em vez de "comics", os jovem faziam festas em vez de "partys", os estudantes colavam "posters" a pensar que eram cartazes, os empresários faziam negócios em vez de "business", e os pedreiros, que ordinários, ao meio dia sacavam da lancheira em vez do "tupperware".
Eu, na primária fiz "fitness" muitas vezes, mas na minha ignorância pensava que era ginástica. Felizmente isto tudo mudou; Portugal é hoje um país moderno e aos portugueses nota-se-nos a mudança quando falamos, o que é muito importante... Quando estudávamos que nem loucos para um exame da faculdade dizíamos "estou que não posso mais ver nada à frente" quando na realidade não dávamos conta que estávamos a "full", que é muito mais "fashion" e é um "wording" muito mais simples.
Quando decidíamos parar um pouco para comer ou beber algo, dizíamos "vamos fazer um intervalo para comer?"; éramos tão ignorantes que não dávamos conta que estávamos a fazer um "break"; agora somos muito mais modernos: vamos ao McDonald's comer uns "burguers"...Não é o mesmo dizer "bacon" que toucinho, ainda que tenham a mesma gordura, nem vestíbulo que "hall", nem jogar golf com vantagem que com "handicap". As coisas, noutro idioma, melhoram muito e têm mais presença.
Desde que Nova Iorque ("sorry, New York") é a capital do mundo, ninguém é realmente moderno se não disser um mínimo de cem palavras em inglês. Deste ponto de vista, os portugueses estamos já completamente modernizados. Já não temos centros comerciais: agora são todos "shoppings". E mais, creio que hoje no mundo não há ninguém que nos iguale, porque, enquanto os outros países só aproveitam do inglês as palavras que não têm porque as suas línguas são pobres, ou porque são palavras de linguagens de recente criação, como a economia ou a informática, nós, mais generosos, fomos mais além: adoptámos inclusivamente as que não nos faziam falta, o que demonstra a nossa abertura e a nossa capacidade para nos superarmos. Exemplos, já não dizemos bolachas, dizemos "cookies", que é muito mais fino, nem temos sentimentos, temos "feelings" que são muito mais profundos.
E da mesma maneira compramos "tickets", vamos ao "pub", usamos "black & decker", fazemos "breefings", practicamos "footing" (nada de caminhar, claro, pois temos automóvel!) e aos domingos , quando vamos ao campo (que os mais modernos chamam "country") em vez de acampar como até agora, fazemos "camping". Os cartazes dos saldos dizem "50% OFF". E quando vamos para trás de um cenário, vamos para o "backstage".
Obviamente, estas mudanças de linguagem influíram os nossos costumes, mudaram o nosso aspecto, que agora é muito mais moderno e elegante, como dizer, é mais "fashion".
Os portugueses já não usamos cuecas, mas sim "slips" ou "boxers" e depois de fazermos a barba usamos "after shave" que nos deixa a pele muito mais suave que a loção do meu avô. Também já não viajamos de autocarro mas de "bus"; já não corremos, fazemos "jogging"; já não estudamos, fazemos "masters"; não estacionamos, utilizamos o "parking". No escritório, o chefe já não é o chefe, é o "boss" e está sempre em "meetings" com os "public relations" ou vai fazer "business" com a sua secretária, ou melhor, "assistant". Na sua pasta , onde antigamente só levava papéis, leva somente um telefone, um "laptop" e um "fax modem"; o que era uma agenda, agora é um "palmtop"... Mesmo que a secretária seja da Almalaguês, faz "maillings", "trainings" e "status" e quando termina o trabalho vai ao "gymn" fazer "fitness". Aí encontra todas as suas amigas "assistants" do "jet set", que fizeram um "lifting" e uma qualquer "top model" fanática do "body training" e do "yoghurt light". E quando vão a um "cocktail" pedem "roast beef" que, ainda que não pareça, é mais digestivo e engorda menos que a carne.
Na televisão ninguém faz entrevistas nem apresenta como dantes. Agora fazem "interviews" e apresentam "magazines", em vez dos programas de notícias que dão muito mais presença, ainda que pareçam sempre os mesmos. Se o apresentador diz muitas vezes "O.K." e se se move o tempo todo, ao magazine chamamos "show", que é diferente de um espectáculo. E se este é um "show" porno, quer dizer se mete carne, adjectivamo-lo de "reality" para lhe tirarmos a carga negativa que tem em português. Nos intervalos, por exemplo, já não há anúncios, mas sim "spots" que, além de serem melhor, permitem-nos mudar de canal, ou seja fazer "zapping". A publicidade agora é o "marketing", as fraquias, "franchising", o comércio, "merchandising", o auto-serviço, , "self service", o levamos a casa, "delivery", o servimos para fora, "take away", a classificação, "ranking", o representante, "manager".
Já não há empreendedores, há "entrepreneurs" e a velha e querida margem entre a compra e a venda chama-se "mark up". E desde há algum tempo, os importantes são os "vips", os auriculares foram "walkman", "disckman" e agora "iPod"; os postos de venda, "stands"; os executivos, "yuppies"; as ama-secas, "baby-sitters" e os direitos de autor, "royalties". E já não dizemos desculpa, dizemos "sorry" e quando vamos ao cinema não comemos pipocas, comemos "pop corn" que é muito mais saboroso. Para sermos completamente ricos e deixarmos o complexo de país terceiromundista que tivemos muito tempo e que tento nos envergonhou, só nos resta dizer "saudade" com sotaque americano, que é a única palavra que o português exportou para o mundo.
Como, um dia, alguém disse: "Já não há mais domadores. Agora são todos licenciados em problemas de conduta de equinos marginais..."

5 comentários:

Anónimo disse...

My dear Duce, faz attention aí no backstage quando estiveres a ouvir o sound check, é que it's raining again e podes ficar completamente out.
Como está a ficar frescote, hoje, vou vestir um pull over e uns jeans antes de ir comer qualquer coisa ao fast food.
Vá lá, até pode ser uma Pilgrin's Sandwich.
Best regards

Anónimo disse...

Por natureza sou muito tímido, embora facilmente eu perca a timidez e logo fico num daqueles cromos chatos e repetitivos, que gregoreiam tudo por onde passam, mostrando o que me vai por dentro.
Uma amiga minha convidou-me para passar um fim-de-semana diferente, ao que respondi:
- Epá, se é uma daquelas festas em que vou com o people para a casa de um, jogamos à lerpa, fico sem dinheiro e sem roupa, embebedamo-nos e batemos umas pívias enquanto vemos um filme pornográfico e fumamos uma mortalha, então estou farto.
- Não, Maxmen (ela sempre me chama Maxmen, numa atitude meia de gozo, meia de ternura), é uma festa com montes de gajas. Eu digo às garinas que és virgem e elas até vão fazer fila para te comer.
Fiquei em êxtase. Montes de gajas. Achei bom demais para ser verdade, mas enfim, como diria o meu falecido avô: “Meu filho, só somos fodidos por uma pessoa que não queremos uma vez, se fores segunda vez, então revê as tuas tendências sexuais!” e arrisquei a ir e a ser lixado.
A festa foi tudo e muito mais do que a minha amiga tinha dito. Jogámos à cabra cega e às escondidas, antes de irmos partir uma piñata. Após recolher os rebuçados, houve raparigas a dispirem-se e a darem um outro uso ao taco de beisebol usado para partir a piñata, eufórico, telefono a um amigo meu:
- Ei! Tudo bem? Olha eu este fim-de-semana não vou estar aí contigo! Epá, estou numa alta festa e está aqui uma gaja perdidíssima que eu quero comer!
- Olha, fala mais alto que não oiço nada...
- Epá, estou numa alta festa e está aqui uma gaja perdidíssima que eu quero comer! E o mais surpreendente é que ela está afim...
- Ainda bem para ti. – respondeu o meu amigo, seguindo-se um longo silêncio da minha parte, até que com uma voz sumida e quase imperceptível disse:
- Ramon, Ramon... Fiz merda...
- Então?
- Ela estava aqui na casa de banho e ouviu tudo...
As gargalhadas ecoavam pelo telemóvel, até que me despedi e desliguei.

Anónimo disse...

Esta história passou-se ontem. Parei numa caixa multibanco para levantar dinheiro, estava uma jovem, loira, devia ter perto de vinte e cinco anos, mini-saia que não deixava nada à imaginação e um top, isto com o tempo ainda frio que estava. Tinha aspecto de ser originária do leste europeu, talvez indiana, tal o seu tom de pele, um branco leitoso. O cartão dela não entrava, então decidi ajudá-la.
- Obrigada. Você ter muito jeito para enfiar cartão. Gostar de enfiar outras coisas?
Quando terminou de falar, passou a língua pelos seus lábios sensuais, enquanto levantava os óculos, revelando uns olhos azuis, doces e penetrantes. Eu ri-me e nada mais disse.
- Inga muito agradecida! Como Inga lhe poderá pagar?
- Deixe estar, não tem que me pagar nada.
Retirei e dei-lhe o cartão, ela ficou com uma cara de espanto, enquanto eu punha o meu cartão. Virei-me para ela enquanto ela se afastava e pensei: “Foda-se que grande cavalão! Como é que eu poderei um dia conhecer alguém assim?”

Anónimo disse...

Ahahah.
Boas histórias .
São daquelas que se está a ler e a esboçar um sorriso sem se dar por isso.

Anónimo disse...

Abaixo os Amaricanos! E os Chineses!